Como muitas coisas na nossa vida, o sucesso nos investimentos dependerá de um bom planejamento. Trouxe alguns pontos que julgo interessante serem abordados nessa fase inicial.
Objetivos
O primeiro ponto que você, investidor, deve se perguntar ao iniciar sua jornada no mundo dos investimentos é quais são seus objetivos e demandas de vida, ou seja, você quer se preparar para aposentadoria, comprar um terreno ou casa própria, alguma viagem, garantir o estudo dos filhos? Cada investidor deve responder a essa pergunta de forma clara e honesta.
Investimento inicial e poupança mensal
Uma vez traçados seus objetivos, você deve quantificar financeiramente o quanto será preciso ter no futuro para alcançar o que você almeja. Por exemplo, eu quero me preparar para aposentadoria e viajar, preciso de R$2 milhões para minha aposentadoria mais R$15 mil reais por ano para uma viagem com a família.
Planeje também qual seria a poupança mensal, ou seja, quanto você consegue ou estaria disposto a guardar de dinheiro para seus investimentos. Veja bem, esse número deve ser realista. Se você ganha R$10 mil e gasta R$7 mil por mês, teria condições de guardar R$3 mil.
Se você precisa guardar mais do que R$3 mil para alcançar seus objetivos, ou terá que aumentar suas receitas ou diminuir suas despesas. Isso seria possível? Se sim, ótimo; se não, talvez seja preciso alterar algum outro ponto como a idade de aposentadoria ou realizar sua viagem com menos conforto.
Além da poupança mensal, se houver valores já poupados, os mesmos devem ser estabelecidos nessa parte. Lembrando que quanto maiores os valores iniciais, mais fácil chegaremos no nosso objetivo, uma vez que a rentabilidade incidirá em cima de um montante maior e muitas vezes teremos acesso a produtos financeiros diferenciados.
Como essa parte definida (demandas e objetivos; poupança inicial e mensal), o investidor deverá definir a melhor configuração do que eu chamo de tripé financeiro dos investimentos: risco, retorno (rentabilidade) e liquidez.
Tripé financeiro dos investimentos
Existem duas maneiras de melhorar a rentabilidade dos seus investimentos (afinal todos querem ganhar mais), uma seria injetando risco. Você pode, por exemplo, trocar um fundo de renda fixa por um fundo ações.
Caso o investidor não queira injetar risco, ele pode injetar prazo. Um CDB com liquidez diária rende em torno de 100% do CDI, enquanto um CDB para 3 anos rende em torno de 115% do CDI. Toda a carteira de investimentos, em algum momento, irá se deparar com esses trade-offs, e você investidor deve estar preparado e bem alinhado com seus objetivos e perfil para tomar a melhor decisão.
“CDI ou taxa CDI é utilizado como referência nos investimentos financeiro e hoje está em torno de 6% ao ano. Assim um investimento que renda 115% do CDI, irá render 6,9% ao ano…”
Necessidade liquidez e reserva de emergência
A liquidez é a facilidade (rapidez) que seus investimentos podem ser liquidados e transformados em dinheiro. Essa necessidade advém de alguma demanda específica e programada – preciso quitar o último reforço da compra de um imóvel daqui a 2 meses. Ou não programada e é aí que entra nossa reserva de emergência.
A reserva de emergência gira em torno de 3 a 6 meses dos seus gastos mensais, justamente para cobrir eventos que não esperamos acontecer (perda do emprego, doenças, etc…). Essa variação ocorre basicamente por dois motivos:
1. Previsibilidade dos fluxos de caixa (receitas e gastos): um profissional autônomo não tem a mesma previsibilidade de um funcionário público. Logo, o primeiro deveria ter uma reserva de emergência maior do que o segundo.
2. Disposição: simplesmente algumas pessoas se sentem mais seguradas sabendo que suas reservas tem mais liquidez. O ideal é educar essa disposição e verificar a real necessidade da mesma.
Aversão a risco
Entenda duas coisas: sua capacidade e sua disposição a tomar riscos.
Capacidade está associado a aspectos quantitativos: idade, renda, despesas, capacidade de poupança, previsibilidade dos seus fluxos de caixa (salário, pensão, aluguel, pró-labore…), dependentes, nível de conhecimento técnico, etc…
Disposição está associado a aspectos psicológicos: como você se sente com relação a perdas financeiras e oscilações do seu portfólio? Como você lida com a ansiedade nesses casos? Atrapalha a sua tomada de decisão?
Gosto muito da seguinte frase: “Honre a sua capacidade e eduque a sua disposição”. O perfil de investidor (suitability) é um bom começo para ajuda-los nessa parte.
Rentabilidade (retorno)
Todo o investidor quer ganhar dinheiro, quanto mais, melhor. As finanças comportamentais, área que vem ganhando muita relevância nos últimos anos, traz que para um mesmo grau de risco, o investimento que render mais será sempre preferido ao investimento que render menos. No entanto, precisamos analisar se essa rentabilidade está de acordo com as necessidades de liquidez e a aversão a risco conforme mencionei acima.
Uma vez definido o “tripé financeiro dos investimentos”, devemos verificar se a rentabilidade esperada com nosso portfólio supre nossa expectativa de retorno (o retorno que precisamos para alcançar nossos objetivos).
Os três potes
O tripé dos investimentos servirá com um filtro de quais investimentos seriam os mais adequados para cada um. “Os Três Potes” é uma sugestão de como você pode dividir seus ativos.
O primeiro pote é o da reserva de emergência, tenha investimentos ultraconservadores como títulos públicos e fundos de renda fixa, ambos pós fixados. Não esqueça de verificar a liquidez, pois ela é importantíssima para sua reserva de emergência.
O segundo pote é o dos sonhos (todo o objetivo que não for emergência ou aposentadoria), nesse pote não há limitações de quais investimentos utilizar, porém se mantenha fiel ao nosso “tripé financeiro” e perfil, tentando sempre educar sua disposição.
O terceiro pote é o da aposentadoria, que é preenchido com dois produtos bem específicos: fundos de previdência e reservas lastreadas. Fundos de previdência possuem alguns benefícios de longo prazo, além de ser uma excelente maneira de você criar o hábito de poupar. Reservas lastreadas (seguros de vida) garantirá que qualquer acidente de percurso não acabe com todo o trabalho realizado até o momento.
Acompanhamentos periódicos, mas dê tempo para seus investimentos!!!
Defina acompanhamentos periódicos para saber se a estratégia está performando de acordo com o planejado. Em caso negativo, faça as alterações necessárias. Porém, pontuo um erro recorrente dos investidores: NÃO DAR TEMPO AOS INVESTIMENTOS.
Devemos acompanhar, mas cuidado para esse acompanhamento não gerar movimentações desnecessárias por pura ansiedade. Apesar de achar esse “tempo” meio subjetivo, creio que nenhuma alteração no portfólio deva ser realizada com menos de seis meses, salvo casos muito específicos.